Docente da UFSCar recebe principal prêmio mundial na área de Geossintéticos

O pesquisador brasileiro Fernando H. M. Portelinha, docente do Departamento de Engenharia Civil (DECiv) da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), recebeu recentemente o prêmio “Young IGS Award”, outorgado pela Associação Internacional de Geossintéticos (IGS, do Inglês International Geosynthetics Society) a cada quatro anos a pessoas ou grupos que tenham dado contribuição extraordinária ao desenvolvimento de produtos geossintéticos e tecnologias associadas. É o principal prêmio internacional na área para jovens pesquisadores (até 36 anos) e, pela primeira vez, foi concedido a um pesquisador brasileiro. A entrega aconteceu no mês de setembro, durante a 11ª Conferência Internacional em Geossintéticos, realizada em Seul, na Coreia do Sul.

O reconhecimento foi dado ao conjunto de atividades de ensino, pesquisa e extensão desenvolvidas pelo docente no período de 2014 a 2018, com ênfase à contribuição no tema “Efeito da infiltração no comportamento de estruturas de contenção em solo reforçado com geossintéticos”. A denominação de geossintéticos é dada a um conjunto de materiais poliméricos aplicados em uma grande diversidade de soluções na Engenharia Civil, cujo uso vem crescendo significativamente desde a sua introdução no Brasil, no final da década de 1970. Portelinha explica que esses materiais tornam as obras mais versáteis, são de instalação mais fácil e, além disso, acarretam menos poluição e menor consumo de recursos naturais do que outros materiais usados mais convencionalmente para contenção (como, por exemplo, estruturas de concreto).

O docente explica que sua linha de pesquisa busca avaliar a funcionalidade de estruturas de solo reforçado com geossintéticos em situação de chuva no contexto brasileiro, e que este é o diferencial do seu trabalho em relação a outros grupos que estudam esses materiais no Brasil. Ele explica que, para o uso em estruturas de contenção, ainda não há uma normatização nacional e, internacionalmente, a recomendação é que os geossintéticos sejam usados em solos mais “grossos”, com maior granulação, que são difíceis de encontrar no Brasil e, quando existem, acarretam custos maiores. “Nós buscamos avaliar a aplicação dos geossintéticos usando o solo que temos na região, para reduzir custos e viabilizar a técnica, e os resultados têm sido positivos. Pela própria condição tropical, os solos que encontramos no Brasil são diferentes de solos dos Estados Unidos e europeus, onde essas normas foram elaboradas”, explica Portelinha, registrando que uma norma nacional está em fase de elaboração. Para essas avaliações, foram realizados tanto o monitoramento de obras reais quanto ensaios laboratoriais, envolvendo inclusive o desenvolvimento de equipamentos específicos, o que, segundo o pesquisador, também contribuiu para a premiação.

Além das atividades de pesquisa, o prêmio também veio em reconhecimento à atuação do docente no ensino e na divulgação do conhecimento sobre geossintéticos no País, além de consultorias para a solução de problemas desafiadores, como, por exemplo, a reconstituição da margem erodida de um rio no município de São Pedro, interior de São Paulo. Destaques na área da Educação são a oferta, no curso de Engenharia Civil da UFSCar, da disciplina “Geossintéticos aplicados à Engenharia Civil”, e a participação do pesquisador na iniciativa “Educando os educadores”, da Associação Brasileira de Geossintéticos (IGS Brasil), que busca justamente disseminar o conhecimento sobre geossintéticos entre professores dos cursos de Engenharia. Além disso, Portelinha, juntamente com Orencio Monje Vilar, docente da Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da Universidade de São Paulo (USP), está organizando a Conferência Brasileira de Geossintéticos que acontecerá em agosto de 2019 em São Carlos. “O evento acontece inclusive em memória do professor Benedito de Souza Bueno, que foi um dos precursores do estudo de geossintéticos no Brasil, infelizmente já falecido. O professor, que foi meu orientador, desenvolveu parte do seu trabalho na EESC e, a partir da sua atuação, São Carlos se tornou um polo de estudos em geossintéticos e uma referência na área”, conta o pesquisador da UFSCar.

Fernando Portelinha coordena o Laboratório de Geotecnia da UFSCar (LabGeo) e o Grupo de Estudos em Geotecnia e Geossintéticos (GEGeos) da Universidade, juntamente com Natália de Souza Correia, também docente do DECiv. O Young IGS Award é o terceiro prêmio recebido em 2018 pelo Grupo, que teve trabalhos de conclusão do curso de graduação em Engenharia Civil reconhecidos pela Associação Brasileira de Geossintéticos (IGS Brasil) e pela Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica (ABMS). “Nós começamos as pesquisas muito timidamente, a partir do meu ingresso na UFSCar, em 2012, e depois com a participação também da Natália. Antes havia trabalhos pontuais, mas o grupo é o primeiro dedicado aos geossintéticos. Construímos essa trajetória praticamente do nada e esses prêmios, nos quais concorremos com trabalhos de universidades bastante consolidadas na área, sem dúvida são uma conquista, com a qual estamos muito felizes e à qual queremos dar continuidade”, conclui o docente. Mais informações podem ser obtidas no site do LabGeo, em www.labgeo.ufscar.br.